Dilma valeu-se de espiões cubanos para convencer Mujica a expulsar o Paraguai do Mercosul, diz livro
A presidente brasileira convocou uma reunião secreta em Brasília com um emissário do governante uruguaio, que não concordava com a punição. A revelação está na mesma obra que expôs a confissão de Lula a Mujica sobre o mensalão
Por Leonardo Coutinho
11 Maio 2015, 18h48
Um livro dos jornalistas uruguaios Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz revela que a presidente Dilma Rousseff interveio diretamente para punir o Paraguai depois que o congresso do país votou pelo impeachment do presidente Fernando Lugo, em 22 de junho de 2012. Uma Ovelha Negra no Poder, sobre o ex-presidente do Uruguai José Mujica, é a mesma obra que revelou confidências do presidente Lula sobre o mensalão.
Lugo sofreu impeachment por mau desempenho de suas funções a nove meses das eleições presidenciais no Paraguai. O posto passou a ser ocupado pelo vice-presidente, Federico Franco. Faz parte do jogo democrático ter instrumentos para afastar presidentes incompetentes, criminosos ou corruptos. No Paraguai, tudo ocorreu em obediência à Constituição, ainda que as votações no Congresso e no Senado tenham sido muito rápidas. Apenas um deputado e quatro senadores pediram a absolvição de Lugo. No total, 112 parlamentares votaram por “la condena“, pela condenação. O prazo para o presidente apresentar sua defesa foi curto, mas não violou as regras para o impeachment.
Argentina e Brasil sustentaram que o processo significava uma “ruptura democrática”, apesar de ter ocorrido em conformidade com as leis paraguaias. Para punir o governo interino, os governos dos dois países decidiram expulsar o Paraguai do Mercosul. Mas o uruguaio Mujica era contra a medida. O livro de Danza e Tulbovitz revela como o governo brasileiro o convenceu a mudar de ideia e como a presidente Dilma Rousseff foi fundamental para isso.
O trecho abaixo, contido no livro Uma Ovelha Negra no Poder, foi publicado no semanário Busqueda, do qual Danza, um dos autores da obra, é diretor de redação:
Quando Lugo foi destituído pelo Senado paraguaio e antes que se celebrasse a cúpula do Mercosul para resolver as sanções, uma das pessoas de maior confiança de Mujica recebeu uma chamada de Marco Aurelio García, mão direita de Dilma.
“Dilma quer transmitir uma mensagem muito importante para o presidente Mujica”, disse o funcionário brasileiro em uma mistura de português e espanhol.
“Não tem problema, vamos estabelecer uma comunicação entre os dois presidentes”, foi a resposta do uruguaio.
“Não, não pode haver comunicação nem por telefone, nem por email. É pessoalmente”, argumentou o brasileiro.
Um encontro tão fugaz e repentino entre presidentes levantaria suspeitas, motivo pelo qual o governo brasileiro resolveu enviar um avião a Montevidéu para transportar o emissário de Mujica à residência de Dilma, em Brasília.
Assim foi feito, e quando uruguaio chegou, Dilma estava lhe esperando em seu escritório. A conversa formal sobre questões gerais durou apenas poucos minutos porque não havia muito tempo.
“Vamos ao que interessa”, interrompeu Dilma e o emissário tomou uma caderneta e começou a anotar o que a presidente brasileira informava. “Sem anotações”, disse ela e fez com que ele rasgasse o papel. “Esta reunião nunca existiu”.
Durante a conversa, Dilma mostrou a ele fotos, gravações e informes dos serviços de inteligência brasileiros, venezuelanos e cubanos, que registravam como foi gestado um “golpe de estado” contra Lugo por um grupo de “mafiosos” que, a partir da queda do presidente, assumiram o poder. “O Brasil necessita que o Paraguai fique de fora do Mercosul para, dessa forma, acelerar as eleições no país”, concluiu Dilma.
Na semana seguinte, no início do julho de 2012, todos os presidentes do Mercosul votavam, em uma cúpula na cidade argentina de Mendoza, a suspensão do Paraguai.
A Constituição Federal não deixa dúvidas. Em seu artigo 4°, estão previstos os princípios da política internacional brasileira, entre eles a autodeterminação dos povos e a não-intervenção. Esses valores são evocados como um mantra inclusive para justificar a apatia do governo petista frente a violações de direitos humanos em países admirados pelo partido, como Cuba e Venezuela. Se a revelação feita pelo livro estiver correta, Dilma não se sentiu constrangida em usar informações levantadas pelos espiões desses países para intervir numa questão doméstica do Paraguai.
Ir para:
1 conteúdo
2 menu
3 busca
4 rodapé
Para Melhor Usabilidade do Portal Recomendamos Usar os Leitores JAWS e NVDA
Acessibilidade
STF Educa
Gestão de Pessoas
Ouvidoria
Transparência e Prestação de Contas
Supremo Tribunal Federal
Informe um assunto sobre uma notícia...
Pesquisar
Mais notícias
Agenda 2030: hotsite reúne dados da atuação do STF relacionados aos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU
A identificação das controvérsias jurídicas associadas aos ODS possibilitará priorizar os julgamentos de ações capazes de impactar positivamente os objetivos e as metas da agenda
29/10/2020 19:15 - Atualizado há 6 meses atrás
Post Views: 7.993
O Supremo Tribunal Federal (STF) lançou, nesta semana, um hotsite para divulgar a interação da Corte com a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Na página, são apresentados eventos e estudos realizados, além dos dados indicativos de processos em que há correlação com os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) ...
Conta
INSCREVA-SE PARA $1/SEMANA
Chefe de Justiça do Brasil: Estamos Salvando a Democracia.
O chefe de justiça do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, defendeu o tribunal diante do crescente debate sobre seu papel agressivo na política.
Novo
Ouça artigos
Toque no botão Reproduzir na parte superior de qualquer artigo para ouvi-lo ler em voz alta.
Ouça este artigo 5:35 minSaiba mais
Compartilhe o artigo completo
Luís Roberto Barroso, vestindo um terno, senta-se em uma cadeira em uma mesa de conferência.
O chefe de justiça do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, defende a investigação do tribunal sobre ataques ao tribunal e a outras instituições governamentais.Crédito...Dado Galdieri para o The New York Times
Jack Nicolas
Por Jack Nicolas
Reportagem de Brasília
Oct. 16, 2024
Leer en español
Colocou presidentes na prisão. Assumiu o Elon Musk — e venceu. Tornou-se um dos policiais mais difíceis do mundo da internet. E parece pronto para fazer de Jair Bolsonaro o próximo ex-presidente brasileiro ...
Twitter hate speech up in large foreign markets after Musk takeover
With 75 percent of its audience outside the U.S. and Canada, the impact of Elon Musk’s moderation cuts has been great elsewhere
January 14, 2023
https://www.washingtonpost.com/technology/2023/01/14/twitter-moderation-cutbacks-impact/